sábado, 22 de maio de 2010

O desafio de desafiar letrando

O DESAFIO DE ALFABETIZAR LETRANDO




Elisângela Borges Magalhães

Marilene Moreira Santos







RESUMO



O presente artigo analisa as competências e os métodos da alfabetização, com base nas recentes descobertas da ciência cognitiva da leitura. Em um mesmo momento, em sociedades distanciadas, tanto geograficamente quanto socioeconomicamente e culturalmente, saber ler e escrever não basta. É necessário que os educandos sejam orientados para se apropriar do sistema, compreender seus usos, suas funções e utilizá-la de maneira crítica, em benefício próprio e coletivo. Num mundo marcado pela escrita, propiciar situações efetivas de letramento é condição imprescindível para o aprendizado e o exercício da cidadania nas suas dimensões prática, política e ética.

Motivo pelo qual escolhemos o presente tema para nosso artigo.



PALAVRA – CHAVE: Alfabetização. Letramento. Competências e métodos da alfabetização. Aprendizagem.



INTRODUÇÃO



Durante muito tempo, pensava-se que ser alfabetizado era conhecer o código lingüístico, ou seja, conhecer as letras do alfabeto.Atualmente, sabe-se que, embora seja necessário, o conhecimento das letras não é suficiente para ser competente no uso da língua escrita. A língua não é um mero código para comunicação. A linguagem é um fenômeno social, estruturada de forma dinâmica e coletiva e, portanto, a escrita também deve ser vista como ponto cultural e social. Para dar conta desse processo de inserção, numa cultura letrada. A alfabetização é apenas um meio para o letrarmento formar cidadãos participativos.

A relações grafânicas são parte integrante da aprendizagem da lingua escrita, os sistemas alfabeticos e ortográficos devem ser objeto de instrução direta, explícita e sistemática, com certa autónomia as práticas de leitura e escrita.

A independência entre alfabetização e letramento são processos paralelos e simultâneos, mas que indiscultivelmente se completam.

Com base nos estudos e pesquisas de hoje em dia, alfabetizar letrando requer: democratizar a vivência de práticas de uso da leitura e da escrita e ajudar o aluno a, ativamente, reconstruir essa invenção social que é a escrita alfabética. Assim podemos compreender que o processo educacional de acesso à leitura e a escrita modifica-se, pois o educando é instado a inserir-se nas práticas sociais de leitura e escrita, ultrapassando a mera aquisição da “tecnologia do ler e escrever” (Soares, 2003, p.21).

A aprendizagem não deve ser reduzida à capacidade de ler e escrever corretamente e tão pouco deve ser desvinculada da prática. Sua concepção se dá no momento em que todos os sentidos são explorados e, o mais importante, de maneira contextualizada e envolvente. Ser resistente a essa realidade é incentivar a existência de uma sociedade cada vez mais excludente, seletiva, desigual, explorada e descriminada.



O presente estudo tem como enfoque principal a Alfabetização que, como propõem Freire e Macedo (1990), é “a relação entre o educando e o mundo, mediada pela prática trans-formadora deste mundo” e o Letramento que, segundo Soares (2000), "é o estado em que vive o indivíduo que não só sabe ler e escrever, mas exerce as práticas sociais de leitura e escrita que circulam na sociedade em que vive".

Assim como a alfabetização e o letramento são processos que caminham juntos, este trabalho, em específico, busca repensar a aquisição da língua escrita, baseado no alfabetizar letrando. Visto que a sociedade hoje é uma sociedade grafocêntrica, não basta ao indivíduo ser simplesmente alfabetizado, ou seja, aprender meramente a decodificar. Faz-se necessário que o mesmo seja também letrado para que possa exercer as práticas sociais de leitura e escrita nesta sociedade.

Infelizmente, a situação de nosso país nas últimas décadas, com relação aos índices de analfabetismo, é muito alarmante, pois muito se discute, mas, na prática, muito pouco é feito. O número de alunos aprovados ao final do primeiro ano escolar não é satisfatório, assim como o número dos que chegam à 4ª série do ensino fundamental sem estarem sequer alfabetizado-letrados também é preocupante.

Já que o paradigma tradicional defendido há décadas não está trazendo resultados satisfatórios, foi realizado um estudo teórico aprofundado sobre a Alfabetização, partindo para seu campo de atuação e confrontando a teoria com a prática. Antecedendo toda a discussão teórica, foi traçado um histórico sobre a alfabetização e, na prática, realizado um estudo de caso que possibilitou ver o quão é importante e enriquecedor um processo alfabetizador baseado na relação da criança com uma diversidade de textos, seja como ouvinte, redador ou leitor.

Letramento é o estado em que vive o indivíduo que não só sabe ler e escrever, mas exerce as práticas sociais de leitura e escrita que circulam na sociedade em que vive.

(SOARES, 2000)

O termo letramento passou a ter veiculação no setor educacional há pouco menos de vinte anos, primeiramente entre os lingüistas e estudiosos da língua portuguesa.

Com os avanços da Psicologia Cognitiva da Leitura permite um mapeamento bastante detalhado das competências e métodos que precedem, acompanham e se tornam possíveis com a alfabetização.

Competências que antecedem a alfabetização:

A capacidade de lidar com livros e textos impressos;

A consciência fonológica (a capacidade de discriminar sons);

A familiaridade com comandos e instruções usuais no ambiente escolar.

Competências centrais ao processo de alfabetização:

Na leitura

A consciência fonológica - perceber que diferentes letras produzem diferentes sons;

O principio alfabético - perceber que há uma relação entre a presença e posição de um grafema e o som que ela tem na palavra;

A decodificação – ser capaz de pronunciar o som de uma palavra escrita ou transformar em escrita uma palavra ouvida;

A fluência – realizar a correção e o ritmo na leitura de textos.

Na escrita

Capacidade de escrever de forma legível (cursiva ou bastão é uma escolha da criança);

Capacidade de escrever de forma ortográfica;

Capacidade de escrever frases.

Competências que precedem, acompanham e sucedem o processo de alfabetização: Desenvolvimento do léxico;

Desenvolvimento de competências de compreensão de texto, e que incluem competências sobre a estrutura, lógicas e usos sociais dos diferentes tipos de texto, bem como estratégias gerais de compreensão e produção de textos.

Definida a alfabetização e as competências que a possibilitam, cabe identificar os instrumentos mais adequados para avaliar se o aluno está alfabetizado.

Método fônico (ou sintético)

O lingüista americano Bloomfield, propositor do módulo fônico desse método, defende que a aquisição da linguagem é um processo mecânico, ou seja, a criança será sempre estimulada a repetir os sons que absorve do ambiente. Assim, a linguagem seria a formação do hábito de imitar um modelo sonoro. Os usos e funções da linguagem, neste caso, são descartados por se tratarem de elementos não observáveis pelos métodos utilizados por essa teoria, dando-se importância à forma e não ao significado.

No tocante à aquisição da linguagem escrita, a fônica é o intuito de fazer com que a criança internalize padrões regulares de correspondência entre som e soletração, por meio da leitura de palavras das quais ela, inconscientemente, inferir as correspondências soletração/som.

De acordo com esse pensamento, o significado não entraria na vida da criança antes que ela dominasse a relação, já descrita, entre fonema e grafema. Nesse caso, a escrita serviria apenas para representar graficamente a fala. Assim, a função seria precedida pela forma; os ditames viriam dos autores das cartilhas, como se esses fossem os detentores do significado, sobrepondo-se ao leitor; o texto serviria somente para ser destrinchado, absorvendo aquele significado cristalizado contido nele; e o erro visto com elevada severidade.

Com relação à prática, observa-se que os mestres decidem como e quando as crianças devem aprender; ensina-se de padrões regulares, considerados mais fáceis, passando para os irregulares, considerados mais difíceis; supõe-se que a criança deva dominar o modo correto, levando-se em consideração a variedade lingüística; a criança deve ter pré-requisitos muito bem estabelecidos para ser considerada apta à língua escrita.

Método global (ou analítico)

Opunha-se ao método sintético, questionando dois argumentos dessa teoria. Um que diz respeito à maneira como o sentido é deixado de lado e outro que supunha que a criança não reconheceria uma palavra sem antes reconhecer sua unidade mínima.

A principal característica que diferencia o método sintético do analítico é o ponto de partida. Enquanto o primeiro parte do menor componente para o maior, o segundo parte de um dado maior para unidades menores.

Justificando o método analítico, Nicolas Adam, responsável por suas bases, vai utilizar-se de uma metáfora, dizendo que, quando se apresenta um casaco a uma criança, mostra-se ele todo, e não a gola, depois os bolsos, os botões etc. Adam afirma que é dessa forma que uma criança aprende a falar, portanto deve ser da mesma forma que deve aprender a ler e escrever, partindo do todo, decompondo-o, mais tarde, em porções menores. Para ele, era imprescindível ressaltar a importância que a criança tem de ler e não decifrar o que está escrito, isso quer dizer que ela tem a necessidade de encontrar um significado afetivo e efetivo nas palavras.

O método analítico se decompõe em:

1. Palavração: diz respeito ao estudo de palavras, sem decompô-las, imediatamente, em sílabas; assim, quando as crianças conhecem determinadas palavras, é proposto que componham pequenos textos;

2. Sentenciação: formam-se as orações de acordo com os interesses dominantes da sala. Depois de exposta uma oração, essa vai ser decomposta em palavras, depois em sílabas;

3. Conto: a idéia fundamental aqui é fazer com que a criança entenda que ler é descobrir o que está escrito. Da mesma maneira que as modalidades anteriores, pretendia-se decompor pequenas histórias em partes cada vez menores: orações, expressões, palavras e sílabas.

Após as leituras e análises realizadas, é possível verificar que cabe a cada professor promover mudanças em suas atividades escolares, incluindo as de natureza metodológica. É necessário evitar que “quadros-verdes” completamente preenchidos constituam o único recurso empregado pelo professor nas aulas, principalmente quando esses textos vão parar no caderno do aluno e nas folhas de provas. Outras metodologias de ensino contribuem para que o aluno tenha prazer em estudar, a partir do autoconhecimento de suas concepções e representações prévias.

É necessário reconhecer que muito precisa ser feito no sentido de assumir como política de estado a formação continuada dos professores, em especial a dos que se dedicam à alfabetização. Os esforços feitos nos últimos anos parecem-nos ainda insuficientes para dar conta da gravidade da questão. Acreditamos que é hora de termos políticas federais, estaduais e municipais que garantam a real formação continuada dos professores da educação básica. Para que essas não funcionem como apêndices ou ações descartáveis dos sistemas de ensino, é urgente priorizar a formação dos formadores de professores, em cada âmbito local.

Ao lado disso e de uma redefinição das condições de exercício profissional dos docentes, chamamos a atenção para a necessidade de debatermos o significado da ampliação do ensino fundamental para nove anos e da urgência de universalizarmos o acesso à educação infantil. A partir dos debates travados durante a década de 1990, por ocasião da instituição dos Referenciais Curriculares Nacionais para aquela etapa de ensino (BRASIL-MEC, 1998), fica evidente que muitos que influem nos destinos daquela etapa escolar resistem à idéia de ensinar-escolarizar-alfabetizar na pré-escola.

Não queremos que crianças pequenas sejam “torturadas” ou “forçadas precocemente” a entrar na ordem da escrita. Mas não encontramos fundamento para negar unicamente aos filhos das camadas populares o direito de, cedo, poderem se familiarizar com a escrita alfabética e, cedo, ganharem autonomia no exercício das práticas que cultivam os cidadãos letrados.











REFERÊNCIAS



BRASIL, Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares Nacionais – Educação Infantil. Brasília: Mec/ SEF, 1999.



BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L9394.htm>. Acesso em: 20 maio 2009.



CAPOVILLA A.; CAPOVILLA F. C. Alfabetização: Método Fônico. 2ª ed. São Paulo: Memnon, 2003.



DELORS, Jaques. Os quatro pilares da educação. São Paulo: Cortez. 1999, p. 89-102. Disponível em: <http://4pilares.net/text-cont/delors-pilares.htm>. Acesso em: 1 jun. 2009.



GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais da educação. Scielo Brasil: São Paulo. Vol.14 no.2. Abr./jun. 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. php?pid=S0102-88392000000200002&script=sci_arttext>. Acesso em: 4 jun. 2009.



SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de

Educação. 2003, 17p



SOARES, Magda Becker. Letramento, um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, 1998.



Nenhum comentário:

Postar um comentário