Adultos adoram fazer perguntas estúpidas para crianças para seu
próprio entretenimento! Uma dessas perguntas é a famosa: “O que você
quer ser quando crescer?”. Nós sabemos que a resposta será algo
improvável – como astronauta ou estrela de cinema – ou até mesmo algo
engraçado – como cortador de grama ou carteiro – e, então, usamos nossos
adoráveis pequenos, nos aproveitando de sua inocência e limitações para
darmos algumas risadas. Que feio!
Crianças nos dão essas respostas engraçadinhas e improváveis porque
não compreendem ideologicamente o sentido de “futuro”. “O que você quer
ser quando crescer?” é uma idéia tão abstrata para uma criança quanto a
origem do universo ou a natureza do tempo e espaço é para nós adultos.
Podemos ter nossas idéias particulares sobre esses assuntos, mas elas
não passam de mera especulação.
Em algum ponto entre nossa infância e nossa maturidade, começamos a
perceber que precisamos de um posicionamento pessoal sobre o futuro para
não sermos considerados “esquisitos” ou “inadequados”. Começamos,
então, a desenhar o futuro que desejamos, moldando-o de acordo com as
expectativas externas sobre nós mesmos. Daí esquecemos que queríamos ser
astronautas e começamos a dizer que queremos ser médicos, advogados,
engenheiros ou arquitetos. Qualquer indecisão nessa área gera ansiedade e
um senso de inadequação. Se não soubermos o que queremos ser, corremos o
risco de não sermos nada. E aí, como ficamos?
Adolescentes entre 15 e 18 anos relatam que, dentre as diversas
causas de sua inquietação, revolta e ansiedade, uma das maiores é a
insegurança quanto ao futuro. E se eu escolher o curso superior errado? E
se eu decidir não fazer curso superior? E se eu casar com a pessoa
errada? E se eu for um fracasso na vida?
Apegamo-nos, então, aos nossos planos para o futuro como uma forma de
reduzir a ansiedade e a inquietação (o senso de que não sabemos
realmente o que o amanhã nos reserva). Quando temos planos, sentimos
que, de certa forma, estamos no controle.
Esse controle, no entanto, é uma ilusão. Nós podemos ter sonhos,
metas, planos e conseguir concretizá-los, mas se a razão por trás desses
objetivos for uma necessidade de controle, não conseguiremos encontrar
satisfação ao cruzar a linha de chegada. Por quê? Porque o motivo jamais
foi vencer, mas, sim, controlar. Ao chegar onde queríamos, a sensação
de insegurança e perda de controle começa a surgir novamente e novos
planos devem ser feitos.
A criança diz que quer ser astronauta “quando crescer”, mas, na
verdade, ela quer ser astronauta agora. Dentre todas as previsões que
podemos fazer na vida, aquela que corremos o maior risco de errar feio é
a de como seremos no futuro – em termos de vontades, preferências e
necessidades. Nós somos como crianças quando falamos sobre nossos
desejos futuros: o que nós dizemos que queremos para o futuro é o que
queremos, na verdade, naquele momento. Nós fazemos suposições sobre como
estaremos amanhã e quais serão nossas preferências, mas essas opiniões
são apenas especulações vazias. Não raro, maldizemos a nós mesmos no
passado pelas escolhas que fizemos porque não compreendemos como
poderíamos ser daquela forma e ter feito tais escolhas. A pessoa que
somos hoje é um estranho para a pessoa que fomos ao passado e também
para a pessoa que seremos no futuro.
Se não podemos prever se no futuro vamos gostar de ter realizado os
objetivos que planejamos no presente, o que devemos fazer, então?
Devemos simplesmente não planejar e viver à deriva?
Nenhum comentário:
Postar um comentário