segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O lugar onde eu vivo da Locutora Manuela Souza



O lugar onde eu vivo
Locutora Manuela Souza

            A caminho do trabalho passo em frente à Prefeitura Municipal e observo várias pessoas sentadas conversando, elas falam sobre muitos assuntos: noites mal dormidas, resultados de jogos na TV, falam das pessoas que ali passam e isto me leva a pensar: Como é o lugar onde vivo?
            Nesta mesma perspectiva contemplo um senhor que incessantemente retira, com uma pequena talhadeira, os restos de massa de cimento dos blocos, numa atitude de total miséria e descaso, outros ainda ficam em pé olhando, uns para os outros, numa expectativa ilusória que uma porta de emprego vai se abrir em sua frente.
            Em meio a todo este detrimento pessoas passam ao meu lado e me saudam com um bom dia, deixam sorrisos delinearem suas faces, sugerindo assim um ótimo dia de trabalho. Continuo a caminhar e percebo que o lugar onde eu vivo precisa de muita coisa. Sei que não vai ser da noite para o dia, mas sei que se olharmos para cima, estará Deus dando uma ajudinha.
            Pessoas entram e saem do meu trabalho, pedem documentos, batem papo, mas trazem na sua fala as raízes de um lugar que na maioria das vezes é desvalorizado pelo excesso de impunidade, pela carência de locais de lazer e pelo sonho de ser feliz que nunca chega.
            Saindo do meu trabalho tudo agora é diferente, há pessoas que se apressam para a hora do almoço, as crianças da escola se agitam e esperam ansiosamente a volta pra casa. Mais a frente, observo pessoas que ao sair do trabalho entram no botequim a fim de esquecer seus problemas, como se no copo de bebida, eles fossem afogados.
            Depois do almoço, o sol já está causticante, marca registrada da caatinga, as pessoas usam sombrinhas para diminuir o efeito solar, mas não conseguem segurar o suor que insiste em escorrer pelo rosto repleto das marcas da idade e da dura lida.
            No final do dia, me disponho a fazer uma caminhada e me sinto persuadida na beleza das pessoas que por mim passam, são homens e mulheres que depois de um dia exaustivo se dão ao luxo de se sentir livres. Apesar de todo desconforto do cansaço da lida, meu corpo se rende ao sol terno, a companhia do amigo de caminhada e ao cheiro do Rio Sincorá que me convida as águas de descanso.
            Como não amar o lugar onde eu vivo? Como posso deixar de crer, que isso tudo um dia, possa desenvolver e se tornar referência pra outras cidades? Retorno para casa feliz por que sei que aqui existem pessoas que trabalham, pessoas que lutam pelos seus ideais, pessoas que sonham com um grande amor, uma vida cheia de sorrisos, um lar com a família toda reunida e de felicidade plena. Essa é a cidade onde eu moro, esta é a cidade que resido a 13 anos que me deixou cheia de marcas de lindas histórias de humanidade e cumplicidade, este é o lugar onde eu vivo.

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