O
lugar onde eu vivo
Locutora Manuela
Souza
A caminho do trabalho passo em frente à Prefeitura
Municipal e observo várias pessoas sentadas conversando, elas falam sobre
muitos assuntos: noites mal dormidas, resultados de jogos na TV, falam das
pessoas que ali passam e isto me leva a pensar: Como é o lugar onde vivo?
Nesta mesma perspectiva contemplo um
senhor que incessantemente retira, com uma pequena talhadeira, os restos de massa
de cimento dos blocos, numa atitude de total miséria e descaso, outros ainda
ficam em pé olhando, uns para os outros, numa expectativa ilusória que uma
porta de emprego vai se abrir em sua frente.
Em meio a todo este detrimento
pessoas passam ao meu lado e me saudam com um bom dia, deixam sorrisos delinearem
suas faces, sugerindo assim um ótimo dia de trabalho. Continuo a caminhar e
percebo que o lugar onde eu vivo precisa de muita coisa. Sei que não vai ser da
noite para o dia, mas sei que se olharmos para cima, estará Deus dando uma
ajudinha.
Pessoas entram e saem do meu
trabalho, pedem documentos, batem papo, mas trazem na sua fala as raízes de um
lugar que na maioria das vezes é desvalorizado pelo excesso de impunidade, pela
carência de locais de lazer e pelo sonho de ser feliz que nunca chega.
Saindo do meu trabalho tudo agora é
diferente, há pessoas que se apressam para a hora do almoço, as crianças da
escola se agitam e esperam ansiosamente a volta pra casa. Mais a frente,
observo pessoas que ao sair do trabalho entram no botequim a fim de esquecer
seus problemas, como se no copo de bebida, eles fossem afogados.
Depois do almoço, o sol já está
causticante, marca registrada da caatinga, as pessoas usam sombrinhas para
diminuir o efeito solar, mas não conseguem segurar o suor que insiste em
escorrer pelo rosto repleto das marcas da idade e da dura lida.
No final do dia, me disponho a fazer
uma caminhada e me sinto persuadida na beleza das pessoas que por mim passam,
são homens e mulheres que depois de um dia exaustivo se dão ao luxo de se
sentir livres. Apesar de todo desconforto do cansaço da lida, meu corpo se
rende ao sol terno, a companhia do amigo de caminhada e ao cheiro do Rio
Sincorá que me convida as águas de descanso.
Como não amar o lugar onde eu vivo?
Como posso deixar de crer, que isso tudo um dia, possa desenvolver e se tornar
referência pra outras cidades? Retorno para casa feliz por que sei que aqui
existem pessoas que trabalham, pessoas que lutam pelos seus ideais, pessoas que
sonham com um grande amor, uma vida cheia de sorrisos, um lar com a família
toda reunida e de felicidade plena. Essa é a cidade onde eu moro, esta é a
cidade que resido a 13 anos que me deixou cheia de marcas de lindas histórias
de humanidade e cumplicidade, este é o lugar onde eu vivo.
Parabéns...
ResponderExcluirBelo Texto...