sábado, 22 de maio de 2010

Métodos de alfabetização nas séries iniciais


METÓTOS DE ALFABETIZAÇÃO NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Lindinalva Couto da Silva

Marinez Menezes da Silva



RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo relatar algumas das teorias vigentes no processo de alfabetização, bem como, analisar a posição e a metodologia na prática-docente nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Nesse artigo será apresentada uma revisão das abordagens referentes à alfabetização e uma discussão das novas concepções de alfabetização. De acordo com as teorias que serão apresentadas, a alfabetização, vem sendo objeto de estudo e pesquisas pelos diversos profissionais envolvidos na questão da educação, assumindo como um processo complexo. Em seguida será relatada brevemente a história da alfabetização e as metodologias que surgiram e se desenvolveram em conjunto com as novas formas de organização da sociedade. Cada metodologia considerou a perspectiva da educação vigorada para a época. E, para concluir, será apresentado as considerações finais, destacando que os métodos citados e os conceitos de alfabetização vieram atender as necessidades desse período.



Palavras-chave: Alfabetização. Métodos. Prática-docente.

INTRODUÇÃO



Esse artigo foi baseado numa pesquisa bibliográfica, a qual discute algumas teorias que nortearam o processo de alfabetização, e as novas concepções vigentes hoje. É mister que o alfabetizador deva ter um bom conhecimento teórico, afim de que norteie sua condução das práticas de alfabetização em sala de aula. Olhar com outros olhos para a alfabetização consiste em sermos professores bem preparados, observando a real necessidade de seus educandos, propiciando-lhes meios para poderem exercer de maneira digna sua cidadania. Segundo as teorias, a seguir apresentadas, a alfabetização é um grande desafio para o professor. Nas últimas décadas está sendo objeto de estudo e pesquisas pelos professores, psicólogos, lingüistas e pedagogos que vêem a alfabetização como um processo complexo que vai muito além de um processo mecânico. O conceito de alfabetização muda com o passar do tempo, a cada período da história surge uma nova concepção para atender a um determinado paradigma educacional. Hoje, com a busca de novos paradigmas, várias tendências influenciam as práticas pedagógicas dos professores. Dessa forma, o alfabetizador deve possuir uma boa bagagem teórica para poder adequar o melhor método às necessidades de seus alunos.





DESENVOLVIMENTO



A história da alfabetização: refletindo sobre seus métodos



Sabemos através de registros históricos que a invenção da escrita surgiu da necessidade dos homens se comunicarem uns com os outros. Mas a criação de um sistema de escrita levou junto a preocupação em decifrar e entender o código. A essa decifração e leitura é que chamamos de alfabetização. Assim, a alfabetização nasceu junto com a invenção da escrita. Não adiantaria criar símbolos para registrar ou comunicar algo, era necessário ensinar como decifrar esses símbolos.

Na antiguidade, as pessoas aprendiam a decodificar esses códigos de uma forma natural, não era necessário ir à escola para aprendê-lo. Segundo CAGLIARI (1998: p. 15) “a curiosidade, certamente, levava muita gente a aprender a ler para lidar com negócios, comércios e até mesmo para ler obras religiosas ou obter informações culturais da época”.

Nessa época, a alfabetização não era ainda tarefa da escola. Quem sabia ler ensinava os outros. As crianças eram instruídas pelos pais ou por alguém que era contratado pela família para atender a essa tarefa. Após a transição da economia agrária para o urbano industrial, em especial no surgimento das indústrias, a aprendizagem da leitura e da escrita tomou outras perspectivas. O uso da escrita na sociedade cresceu consideravelmente com a produção de livros com a invenção das máquinas. Após as revoluções Industrial e Francesa a alfabetização se tornou algo essencial para a vida do homem. Além disso, era necessário alfabetizar os operários e seus filhos para terem mão de obra qualificada.

Nesse sentido, NUCCI (2001: p. 49) ressalta que “com as mudanças políticas, sociais e econômicas, decorrentes das revoluções Industrial e Francesa, as pessoas começaram a sentir cada vez mais o poder da comunicação por meio da palavra escrita”.

Diante dessa nova realidade, a escola toma a responsabilidade à educação do ensinar a ler e a escrever para as crianças. Começava a aparecer os métodos como forma de ensinar as crianças a lerem. Porém, a alta sociedade freqüentava a escola, enquanto a maioria do povo pobre ocupava o seu tempo com o trabalho braçal para poderem sobreviver.

Os métodos se consolidaram e se desenvolveram juntamente com as novas formas de organização da sociedade. Cada método veio atender uma nova perspectiva da educação vigente na época. Dessa forma, quando estudamos e analisamos os métodos de alfabetização devemos estudar em que momento da história ele aconteceu e em qual perspectiva ele veio atender.



O método tradicional



No paradigma educacional até os anos 80, aparecem três métodos diferentes de alfabetização para orientar os professores, são eles: sintético, analítico e o misto.

Os métodos sintéticos seguem a marcha que vai das partes para o todo, ou seja, primeiro a criança internaliza as unidades menores (fonemas), para depois gradativamente chegar às unidades maiores. Os métodos sintéticos se dividem em: alfabético, fônico o e silábico.

O método alfabético partia da decoração oral das letras do alfabeto, em seguida suas combinações silábicas e depois o texto; O método fônico começa se ensinando a forma e o som das vogais, depois as consoantes e as relações cada vez mais complexas; O método silábico tem como a principal unidade a ser analisada pelos alunos a sílaba. Os métodos silábicos se apresentam nas cartilhas por meio de “palavras-chaves”, utilizando apenas para apresentar as silabas.

O segundo grupo de métodos, os analíticos partem do todo (palavras – chaves) para as unidades menores (sílaba). Os métodos analíticos se dividem em: palavração, setenciação e método global.

No método da palavração, as palavras são apresentadas em agrupamentos e os alunos aprendem a reconhecê-las pela visualização, configurando graficamente a palavra; No método da setenciação a estratégia usada pelo professor é comparar palavras e isolar elementos conhecidos nelas, para ler e escrever outras palavras; O método global parte do reconhecimento global de um texto, no qual o aluno precisaria memorizar um texto durante um período, para depois reconhecer as sentenças.

O método de alfabetização misto é uma mistura do sintético e do analítico. Através dele, o aluno analisa e compreende textos e frases, reúne sílabas para formar palavras e, ao mesmo tempo, agrupa palavras e forma frases.

Os métodos sintéticos, analítico e misto são chamados também, de métodos

tradicionais ou cartilhescos, os quais consistiam apenas em cópias, ditados, listas e mais listas e exercícios do tipo siga o modelo. Assim, quando o professor solicitava aos alunos que lessem o alfabeto (todos liam) e ao pedir para escreverem ou formar uma palavra, esses não sabiam. Percebe-se aí, que o (re) conhecimento das letras que formavam as famílias silábicas eram “decoradas” na sua ordem.

A concepção do ato de alfabetizar, vigente nesta época, resumia-se apenas na aquisição da língua escrita como a transcrição de sinais sonoros. Ou seja, o ato de ler era a mera decodificação dos sinais. A habilidade de aprender a escrita era adquirida mediante treinamentos, repetições e imitações de modelos. O trabalho era de forma mecânica, sem contextualização nenhuma com a realidade da criança. Assim, a atividade cultural da escrita e da leitura perdia sua relevância em relação à vida.

O que parecia ser um caminho fácil para alfabetizar as crianças se tornou desastroso. A criança era tomada como um ser passivo, neste processo o professor depositava os conhecimentos para estas. Não havia espaço para o erro, ao errar a criança demonstrava não estar preparada para seguir adiante. Os alunos mostravam-se incapazes de seguir o processo escolar, a média de reprovação aumentou e a evasão escolar foi assustadora.

Os métodos não eram os culpados, pois os professores seguiam exatamente as instruções para aplicá-los aos alunos, com certeza o problema estava no aluno. Esse pensamento seguiu por muitos anos ainda, até vários estudos detectarem o que havia de errado com a alfabetização no ambiente escolar.

O fracasso da alfabetização não se dá por causa dos métodos e sim da pouca preparação e formação dos professores em adequar o melhor método às necessidades dos alunos. Assim, afirma CAGLIARI (1998: p. 33)

Como as escolas de formação de professores para o magistério, guiadas por estranhas idéias oriundas das faculdades de educação, não conseguem dar a formação necessária para os professores, os órgãos públicos encarregados da educação passaram a dar periodicamente “pacotes educacionais”, de acordo com os modismos da época. (...) os professores, atormentados com tantas mudanças, vítimas

da própria incompetência, foram experimentando todos os “pacotes”.



O construtivismo



A partir da década de 80, no cenário educacional brasileiro surge um novo paradigma educacional. Com os estudos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky surge o construtivismo baseado nas teorias de Jean Piaget. Na concepção construtivista a criança é o foco central da aprendizagem, ou seja, é o sujeito agente no processo da aprendizagem. O professor se configurou apenas como um “espectador” ou um facilitador, o qual respeita os erros, mas acaba por não encaminhar o processo de aprendizagem dos alunos. Larocca e Saveli (2001: p. 203) criticam essa posição do professor no construtivismo afirmando que:

O grande problema que se configurou em nossa realidade foi o equívoco do “professor espectador” que, em nome do respeito ao erro, acaba por não encaminhar o processo de aprendizagem. Como se este só pudesse ocorrer pela livre descoberta, compreensão que gera uma prática pedagógica baseada num ensaio-e-erro quase interminável, exigindo que cada criança, para aprender, tenha sempre de reinventar a roda.

Na visão construtivista, a criança descobre situações de escrita simples e constrói hipóteses sobre elas, num certo momento essas hipóteses entram em conflito o que faz com que a criança progrida à mercê das suas próprias descobertas. “Nessa perspectiva, o sucesso ou fracasso da alfabetização relaciona-se com o estágio de compreensão da natureza simbólica da escrita em que se encontra a criança”. (SOARES, 2003: p. 19). Assim, por não apresentarem nenhum método, a questão do ensino ficou subestimada, pois vários professores interpretaram o construtivismo de várias formas. Em conseqüência, muitos educadores perderam focos importantes da alfabetização. O construtivismo representou um grande avanço em relação ao pensamento tradicional do ato de alfabetizar. Foi dado mais ênfase ao aluno e uma nova visão em analisar seus erros, do que antes era tudo centrado apenas no professor. Porém, várias pesquisas realizadas com alunos que terminavam o ensino primário constataram que estes sabiam ler e escrever, mas não conseguiam interpretar textos simples e tão pouco entender uma diversidade textual e não conseguiam escrever textos coerentes e significativos.

Compreendeu-se então, que o conceito de alfabetização estava restrito, era necessário ampliar esse conceito, pois a sociedade demandava outras perspectivas na aprendizagem das letras. Notou-se que o conceito de alfabetização ia muito além da habilidade em ler e escrever.



Teoria histórico-cultural e o letramento



A partir de 1985, chegam os estudos de Vygotsky no Brasil. Os pressupostos básicos da sua obra é que as origens superiores de comportamento consciente (pensamento, memória, atenção voluntária etc.) são o que diferenciam o homem dos outros animais, devem ser achadas nas relações sociais que o homem mantém. Vygotsky não via o homem como um ser passivo, e sim como um agente ativo, que age sobre o mundo, sempre em relações sociais, e transforma essas ações para que constituam o funcionamento de um plano interno.

Para Vygotsky o aprendizado da criança não começa na escola, muito antes dela entrar em contato com os saberes escolares, ela faz parte de um ciclo social e nela há uma história de aprendizagem prévia. Observa, também, que o professor é muito importante para o desenvolvimento do aluno, pois ele vai fazer a mediação entre o conhecimento e a criança.

Os estudos de Vygotsky tiveram grande importância para a alfabetização. Como o teórico apontava a linguagem como a condição mais importante para o desenvolvimento da criança, surgiu a necessidade em apresentar aos alunos uma aprendizagem mais significativa, buscando na vivência dos alunos subsídios para alfabetizá-los. Além disso, o processo da aquisição da leitura e da escrita deveria ser relacionado com o uso social da linguagem.

A alfabetização então foi assumida como um processo complexo e multidimensional. Deixou de ser apenas o domínio da leitura e da escrita, para mostrar o papel que a escrita tem enquanto prática social, ou seja, compreender a necessidade da leitura e da escrita no mundo social. Veja a seguir um conceito de alfabetização mais amplo, seguindo essa nova perspectiva. Define NILHAREZI (1987: p. 5)

(...) entende-se alfabetização como um fator de mudança de comportamento diante do universo, que possibilita ao homem integrar-se à sociedade de forma crítica e dinâmica, constitui uma das formas de promover o homem, tanto do ponto de vista social como individual.

Surge assim, o conceito de letramento defendido e estudado por Magda Soares. De acordo com NUCCI (2001, p. 55, Apud. SOARES, 1998, p.39), o termo letramento “é o resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais de leitura e escrita; o estado ou condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como conseqüência de ter-se apropriado da escrita e de suas práticas sociais.”

Em outras palavras, o letramento significa promover atividades contextualizadas de forma que o aluno experimente situações diversificadas. É pertinente salientar que o professor reflexivo, alfabetiza letrando, pois consiste em um processo que ocorre concomitantemente, ou seja, são dois processos diferentes, porém, indissociáveis, um não precede o outro, ambos caminham simultaneamente.

A proposta de ensino defendida pelo letramento é enfocar atividades sociais de aprendizagem, ou seja, as práticas de alfabetização devem iniciar nas experiências sociais da criança para depois formalizar os conceitos. A base teórica do paradigma do letramento é a teoria histórico-cultural, através dos estudos de Vygotsky.

Hoje, ano de 2010, várias pesquisas pedagógicas na área da educação vêm mostrando que aos poucos os professores estão desenvolvendo uma nova prática. Estes estão se tornando mais críticos e reflexivos frente a sua posição de alfabetizadores, procuram observar a necessidade de alfabetização que seus alunos têm e qual paradigma educacional ela deve atender. Foram evidentes durante os estágios I, II, III e IV, que ensinar com êxito é ter o domínio de uma prática, de um saber fazer.

A investigação, relatada neste trabalho, foi realizada através de uma pesquisa bibliográfica. A escolha do tema da pesquisa surgiu das discussões sobre os métodos de alfabetização feitos em sala de aula, pela turma do último ano de Pedagogia da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA), do qual fazemos parte.



CONCLUSÃO



O conceito de alfabetização sofreu expressivas alterações ao longo das últimas décadas. O que antes consistia apenas no domínio do código escrito, hoje essa perspectivas não atendem mais o paradigma emergente na educação e as grandes transformações sociais. Assim, podemos notar que a língua vive em constante mudança, e atrás dessa mudança novas maneiras de se alfabetizar surgem. Para isso, o alfabetizador deve ter sempre em mente a seguinte pergunta: alfabetizar para quê? Todos os métodos citados e os conceitos de alfabetização apresentados no trabalho devem ser analisados dentro de um contexto social da época, os quais vieram atender as necessidades desse período. Todos tiveram seus pontos fracos e fortes.

Hoje, com a busca de novos paradigmas educacionais, várias tendências influenciam as práticas pedagógicas dos professores. Dessa forma, o alfabetizador deve ter um bom conhecimento teórico, que norteie a sua condução das práticas de alfabetização em sala de aula. Precisamos olhar com outros olhos para a alfabetização. Professores bem preparados, os quais olhem para a necessidade de seus alunos, dando a eles instrumentos para poderem exercer dignamente a sua cidadania. Vemos a concepção de alfabetização de uma forma política, a qual controla e disciplina a classe operária para a atividade industrial. Por trás desse paradigma, há ideologias com o objetivo de controlar a classe de trabalhadores. Para que isso seja suprimido, os professores deverão libertar-se dos velhos programas de métodos da alfabetização e encarar o ensino da leitura e da escrita num ato crítico. Não é através de exercícios mecânicos que as crianças se tornarão cidadãos reflexivos do seu papel como agente construtor e transformador de sua história, mas sim com atividades relacionadas ao seu cotidiano, que tragam subsídios para atender esse novo olhar que o homem precisa ter sobre a sociedade e o mundo que o cerca.



REFERÊNCIAS



CAGLIARI, L.C. Alfabetizando sem o bá-bé-bi-bó-bu. São Paulo: Scipione, 1998.



CAGLIARI, Luis Carlos. A respeito de alguns fatos do ensino e da aprendizagem pelas crianças na alfabetização. In: ROJO, Roxane (Org.). Alfabetização e letramento: perspectivas lingüísticas. Campinas, SP: Mercado das letras.



KATO, Mary. (org.) A concepção da escrita pela criança. Campinas: Pontes, 1988.



LAROCA, P; SAVELI, E.L. Psicologia e alfabetização: Retratos da psicologia nos

movimentos de alfabetização. In: LEITE, S.A.S. Alfabetização e letramento: Contribuições para as Práticas Pedagógicas Alfabetização e letramento. São Paulo: Komedi, 2001.



NILHAREZI. M. J. O ensino da leitura e da escrita na fase inicial da escolarização. São

Paulo: EPU, 1987.



NUCCI, E. P. di. Alfabetizar letrando: Um desafio para o professor. In: LEITE, S.A.S.

Alfabetização e letramento: Contribuições para as Práticas Pedagógicas. São Paulo:

Komedi, 2001.



SOARES, M. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2003.

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